A Fitoterapia Hoje

Sumário

As ervas estão definidas de várias maneiras dependendo do contexto em que a palavra é usada.

  • Botanicamente, refere-se a vegetação rasteira, plantas que produzem sementes e morrem ao final de cada estação de crescimento
  • Como Alimento, refere-se a produtos vegetais usados para adicionar sabor ou aroma aos alimentos
  • Na Medicina, o termo tem um significado mais específico e é definido como droga em estado natural de origem vegetal, usada para o tratamento de doenças, (geralmente crónicas), ou para obter e preservar uma condição de saúde.

Existem algumas ervas que podem ser qualificadas como um alimento ou medicamento, ou ambos, dependendo da intenção do utilizador. Por exemplo, o Alho, quando usado para cozinhar, é obviamente um alimento. Quando é utilizado para controlar a hipertensão ou ajudar a baixar os níveis de colesterol, deve ser considerado uma planta medicinal. Certamente muitos povos devem usá-lo para ambas as finalidades em simultâneo. No geral, existem relativamente poucas ervas que apresentam esta questão e a definição entre medicinal e fins culinários é geralmente clara.

Fitofarmacêuticos na Sociedade Moderna

O uso de plantas medicinais tem um lugar significativo na sociedade moderna e no tratamento das doenças modernas. Em muitos países da Europa, particularmente a  Alemanha, os medicamentos à base de plantas têm um papel importante na rotina de prescrição dos profissionais de medicina. Muitos dos preparados de plantas medicinais que são encontrados nestes países reflectem esta integração tendo componentes herbais e farmacêuticos nas formulações.

Ervas “Fortes” e “Suaves”

As ervas fitoterapêuticas podem ser divididas entre duas categorias principais. Estas são denominadas fortes (potentes) e fracas (suaves),  e reflectem a força da influência Alemã na Fitoterapia. Entre estas duas classificações, encontra-se um vasto campo transitório em que muitas ervas se enquadram. Esta área poderia ser referida como uma escala fitoterapêutica intermediária.

Classificação dos diferentes Agentes Fitoterapêuticos

                                                   Suave                          Intermediária                        Potente

 

Doenças do coração           Espinheiro-alvar            Lírio-do-Vale                      Digitalis

Gastrointestinal                  Camomila                        Alcaçuz                               Beladona

Sistema Nervoso                 Hipericão                                                                     Ópio

Valeriana                                                                     Morfina

 

Da tabela acima, é óbvio que nem todas as ervas medicinais são agentes fitoterapêuticos fracos. A classificação que tem sido usada está baseada na experiência. Seria verdadeiro dizer que na maioria dos casos, não há nenhum método padrão ou mensurável a utilizar que nos daria uma direcção sobre a força da acção das plantas. Com certeza, em plantas como a Beladona, Digitalis e o Ópio a classificação é clara. A Camomila, Ginkgo e a Valeriana são todas plantas com acção suave sem efeitos secundários significativos. O termo fraco não significa ineficaz. O uso do termo denotaria que uma planta é relativamente segura, por outras palavras, tem um Índice Terapêutico elevado.

O conceito de Índice Terapêutico é usado por Farmacêuticos para avaliar a relação risco-benefício das preparações farmacêuticas. Teórica e matematicamente, é a relação do número de pessoas que beneficiariam da preparação, e o número de pessoas que poderiam ter efeitos secundários (ou mesmo morte, a qual seria o efeito secundário final!) ao usar a preparação. Um valor elevado indicaria assim que a preparação é relativamente segura e isso trará , mais vantagens que danos, na utilização da  preparação.

As ervas suaves podem agir rápida e eficazmente, embora a sua acção seja ao mesmo tempo segura. Um bom exemplo disto é a Valeriana, que acalma o sistema nervoso rápido e eficazmente o suficiente para ser usada como uma planta para insónia.

A Valeriana é uma erva excelente para o sistema nervoso. Ela actua melhor como um ansiolítico que ajuda a reduzir a ansiedade.

No Reino Unido, a maioria das ervas disponíveis para venda sem prescrição são ervas fracas. Significando que praticamente são poucos ou nenhuns os  efeito secundários das ervas usadas.

Tipos de preparações terapêuticas

Existem muitos tipos diferentes de preparações herbais disponíveis, com diferentes métodos de fabrico.

Preparações Líquidas

As preparações líquidas são largamente utilizadas pelos herbalistas, devido às suas vantagens. A vantagem principal é que, se preparada correctamente, a manipulação é mínima e pode reflectir verdadeiramente as características químicas da planta original. Os líquidos também são ideais para a preparação de formulações individuais para cada paciente, um método ainda utilizado por muitos herbalistas.

A principal desvantagem dos líquidos é o sabor. Entretanto, no caso do gosto amargo, ele é uma parte essencial do tratamento estimulando o reflexo de secreção do suco gástrico. Muitos pacientes habituam-se ao sabor dos seus medicamentos e alguns chegam mesmo a gostar deles.

Fragmentação

Antes de as plantas serem processadas, precisam ser  cortadas e quebradas em tamanhos apropriados. Isto é feito principalmente para facilitar a manipulação e para aumentar a  superfície exposta da planta. Este processo  chama-se fragmentação.

Extracção

Submetidas à fragmentação, os constituintes activos solúveis das drogas puras são extraídos e separados. O objectivo é obter uma preparação que seja razoavelmente concentrada, favoravelmente activa e cujas qualidades possam ser confirmadas e reproduzidas.

Preparações liquidas

Infusões

As infusões são usadas quando os princípios activos da droga pura são prontamente solúveis em água e facilmente obtidos do tecido da planta. Este processo é apropriado para folhas, flores e caules. O método consiste em triturar e pulverizar a planta, verter água recém-fervida e reservar por uns 30 minutos, mexendo de vez em quando. Depois coam-se obtendo-se assim um líquido limpo. Os chás de ervas, normalmente consumidos, são infusões.

Decocção

Este processo é usado quando os constituintes são solúveis em água, mas, é lento a libertar os princípios activos, como por exemplo, raízes, cascas e hastes. Prepara-se as decocções, adicionando água fria sobre as plantas trituradas ou pulverizadas, levando a mistura à fervura por algum tempo (em alguns casos até 4 horas). A mistura deve então arrefecer e depois ser coada.

Infusões e Decocções envolvem calor e podem assim alterar alguns dos componentes activos mais sensíveis das plantas. Estes processos extraem somente os componentes solúveis em água, tendendo a deixar de lado os constituintes solúveis em gordura.

As decocções são inconvenientes, mas algumas vezes esta  é a única maneira de extracção de uma erva “densa” como uma casca ou um caule.

Maceração

Os constituintes activos de muitas preparações herbais são destruídos pelo calor e/ou não são extraídos satisfatoriamente apenas pela água. Para estas plantas o processo de maceração (geralmente usa-se uma mistura álcool/água) é muito utilizado e o produto final é designado por tintura. As partes da planta solúveis em água e em gordura podem ser extraídas usando este processo.

Apesar de na maioria dos casos uma mistura de álcool/água ser usada, o vinagre é por vezes a escolha preferida para certas ervas. A planta é cortada ou reduzida a pó, é embebida numa mistura de álcool/água e mantida num recipiente fechado por um tempo determinado em um local frio e escuro. No final deste período, o líquido é escorrido e o material restante (os resíduos) é pressionado para extrair-se tanto líquido quanto for possível. O líquido é então coado, filtrado e engarrafado.

Tinturas

As tinturas alcoólicas são usadas por herbalistas há mais de 150 anos e são agora consideradas um dos melhores métodos para se extrair e preservar uma planta medicinal. Um número de estudos tem mostrado que a concentração de álcool pode afectar significativamente a qualidade final da tintura.

Tem-se mostrado que uma concentração alcoólica entre 40 a 60% tem a vantagem de obter o bom equilíbrio dos constituintes solúveis em água e gordura de cada planta. Este equilíbrio é importante por reflectir as proporções de cada constituinte da planta no seu estado fresco ou original. Esta relação álcool/água é muito importante e geralmente é calculada para cada planta individualmente, para se obter o máximo de eficácia do processo de extracção. Percentagens elevadas não melhoram necessariamente o processo e certamente podem ter um efeito adverso no poder e eficácia do produto final.

Este índice de concentração de álcool (40 a 60%) dá também a melhor acção anti-bacteriana e anti-fúngica. Surpreendentemente, concentrações maiores de 70% não são tão eficazes na manutenção da esterilidade.

Uma das principais vantagens das tinturas é a de que o álcool actua como um conservante natural e evita os problemas da deterioração dos componentes activos durante o armazenamento do produto. Os componentes activos da preparação herbal são  mais estáveis numa tintura. O conteúdo em álcool impede também uma contaminação bacteriana e fúngica.

A absorção da preparação herbal é também realçada pelo álcool. A tintura pode ser absorvida através da boca e do esófago (garganta) tão bem como através do estômago.

Existem muitas vantagens na absorção dos medicamentos através das membranas das mucosas da boca e garganta:

  • Os ingredientes activos entram no sangue rapidamente
  • Os ingredientes activos não são afectados pelas enzimas digestivas no estômago
  • A preparação contorna o fígado

A absorção através membranas mucosas da boca permite também que a preparação chegue ao sangue mais rapidamente. Deste modo, o remédio é distribuído por todos os tecidos do corpo antes de chegar ao fígado. Esta via de absorção evita o fígado e tem um número sem igual de vantagens.

O fígado é um órgão complexo e é vital para a saúde do corpo. De entre as muitas funções que tem está a responsabilidade de desintoxicar o sangue. Algumas toxinas ou químicos (ambas benéficas e prejudiciais) são destruídas pelo fígado. São propriedades protectoras e benéficas quando são ingeridos produtos químicos não desejados como o chumbo e o mercúrio. Contudo, ele pode também reduzir a actividade a medicamentos absorvidos pelo sistema gastrointestinal.

Toda a substância ou alimento que sejam absorvidas pelo estômago e pelo intestino delgado entram na corrente sanguínea através dos vasos que cercam estes órgãos. Estes vasos fazem o transporte pela veia hepática, até ao fígado. Este mecanismo, que traz toda a matéria absorvida do intestino para ser desintoxicada pelo fígado, é chamado “Metabolismo Hepático de Primeira Absorção

Existem determinadas circunstâncias onde é importante evitar o Metabolismo Hepático de Primeira Absorção. A preparação farmacêutica nitroglicerina, geralmente usada como antianginoso, na forma de pulverizador sublingual (sub=abaixo; lingual=lingua), ou de comprimidos, é o exemplo mais comum encontrado no mundo farmacêutico.

Preparações sólidas

Existem muitas e diferentes preparações de plantas, que estão na forma sólida e têm a vantagem de ser de fácil transporte. Entretanto, as preparações líquidas são frequentemente absorvidas mais rápida e efectivamente que as preparações sólidas, que precisam ser transformadas no tracto gastrointestinal. Além disso, as preparações sólidas são menos estáveis que as tinturas alcoólicas; por outras palavras elas não permanecerão fortes por um período tão longo quanto as tinturas.

Extractos Sólidos

Este método de preparação reduz uma infusão de sumo fresco de ervas à consistência de melaço. O material é fervido lenta e delicadamente por um longo tempo, agitando constantemente até a maior parte da água se ter evaporado. Deve então ser armazenado no frigorifico e ser usado rapidamente. Os extractos sólidos são usados comercialmente para a preparação de comprimidos, pílulas e unguentos.

Cápsulas

As cápsulas são uma forma conveniente de fornecer o poder das ervas porque elas escondem gostos ou texturas desagradáveis. São recipientes gelatinosos, que são cheios com o material activo, selados, tanto por meios mecânicos ou por aplicação de calor. Porque mascaram odores e sabores desagradáveis, são populares entre as crianças, mas tem a desvantagem de que mesmo cápsulas grandes podem conter apenas 300-600 miligramas da planta em pó. Isto significa que é preciso tomar várias cápsulas para conseguir a dose adequada. As cápsulas podem conter os ingredientes activos de muitas formas, incluindo líquidos, óleos, plantas em pó, plantas secas ou extractos frescos de plantas.

Comprimidos

Os comprimidos com plantas são uma forma de dosagem conveniente e evitam os problemas com sabor ou álcool. Entretanto, uma das maiores dificuldades com os comprimidos é o tipo de processo necessário. Além dos ingredientes activos, os comprimidos tem que conter substâncias inertes chamadas excipientes. A finalidade dos excipientes é fornecer volume ao comprimido, além de garantir equilíbrio na mistura durante o fabrico.

Ironicamente, os comprimidos são feitos geralmente com extractos líquidos das plantas. A extracção é feita com solvente apropriado e o líquido resultante é seco e transformado num concentrado, utilizando processos como concentração por vácuo ou secagem por pulverização. Este concentrado é então misturado com os excipientes antes dos comprimidos tomarem forma por ‘’pressão’’.

O calor pode por vezes ser utilizado no processo de  fabrico do comprimido, por exemplo, a mistura é molhada e posteriormente seca em estufa antes da compressão. Contudo, componentes voláteis ou sensíveis ao calor podem ser danificados ou perdidos por este processo, arriscando assim  alterações adicionais nos componentes. Existem entretanto, processos que não requerem o calor e estes são os mais efectivos no fabrico de comprimidos à base de plantas.

Cremes

Os cremes são preparações viscosas ou semi-sólidas formuladas de modo que a preparação se misture facilmente com as secreções da pele, isto é, suor e óleo. Isto permite uma fácil absorção das substâncias presentes no creme.

Unguentos

São preparações semi-sólidas de substâncias suspensas numa base não aquosa. Os unguentos não são absorvidos prontamente pela pele e cumprem uma função protectora, tendo um efeito emoliente, que é benéfico em pele seca.

Supositórios e Óvulos

Estes são veículos preparados com substâncias com um baixo ponto de fusão (como a glicerina) e são usados para introdução de medicamentos por via rectal ou vaginal. Podem ser um método de medicação particularmente útil, porque conduz a droga para contacto directo com a membrana mucosa. Os supositórios de Hamamelis, usados para as hemorróidas, usam este princípio com bom efeito.

Os supositórios são benéficos quando não pode ser tomada medicação por via oral. Em alguns países como a França, parece ser o meio de tratamento preferido para muitos medicamentos.

Pós

Ocasionalmente, a melhor maneira de prescrever drogas herbais é na forma de pós. Isto aplica-se em especial a ervas que contenham mucilagem, pois quando estas ervas são misturadas com água, a mucilagem reage e forma um gel que aumenta o seu volume original várias vezes, o que o torna difícil de manipular.

A linhaça é um bom exemplo de uma erva mucilaginosa. São usadas geralmente as sementes inteiras e por vezes reduzidas a pó. O aumento do volume da mucilagem atinge o máximo quando em contacto com maior quantidade de água. A linhaça em pó absorverá água facilmente, mas quando se usa a linhaça inteira, é melhor moer as sementes, de modo que a casca resistente seja quebrada. Isto permite que a água seja absorvida pela semente, ocorrendo o crescimento da mucilagem e dando um aumento de volume eficaz.

Quando os componentes solúveis em gordura são uma parte importante da actividade de uma planta, a dose de planta misturada em água deve ser seguida por uma dose de óleo vegetal para ajudar na absorção.

A grande vantagem dos pós é que a totalidade dos constituintes da planta são melhor introduzidas no tracto digestivo dos pacientes quando comparados com aqueles constituintes que se dissolvem apenas em água.

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